Adaptação (muito, muito, muito livre) à realidade portuguesa, do conto de Woody Allen, A Puta de Mensa (The Whore of Mensa). Conto dividido em três actos (adaptação elogiada pela generalidade da crítica, referindo-se-lhe como uma cagada em três actos).
A Puta do Futebol
Um detective não é detective se não seguir os seus instintos. Quando me entrou pelo escritório um tipo com um bojo da Rebordosa até ao Piodão de nome Tó-Mané e colocou a nu as suas preocupações eu devia ter bebido mais um Cacique.
-Inspector Ventoinha?
-Sim!?
-Tem de me ajudar. Estou a ser chantageado.
-Conte-me tudo.
-Não conta à minha mulher?
-Vá, conte-me tudo!
-Eu trabalho - disse. - Comercial.
-E?
-Ando muito na estrada e sinto-me só, percebe? Não é o que está a pensar. Basicamente, sou um apaixonado por futebol. É claro que um gajo pode conhecer todas as broas que quiser. Mas uma mulher que saiba discutir futebol... não se encontra do pé para a mão.
-Continue.
-Bem, ouvi falar de uma rapariga. Dezoito anos. Estudante na Faculdade de Motricidade Humana. Paga-se um tanto e ela vem discutir um tema qualquer... a lei do fora-de-jogo, os frangos do Ricardo, a alta-pressão do Peseiro. Está a ver a ideia?
-Nem por isso.
-Ou seja, a minha mulher é óptima, mas não discute uma defesa em linha comigo. Ou a ida ou não do Baia à Selecção. Não sabia isso quando me casei com ela. Preciso de uma mulher que me estimule futebolisticamente, Inspector. E estou disposto a pagar por isso. Não quero uma relação, só a conversa rápida e depois que se vá embora.
-Há quanto tempo isto dura?
-Seis meses. Sempre que sinto desejo, ligo à Dona Paula. É uma Madame, ex-árbitro de futebol de salão, cursada em Desporto e professora de Educação Física durante muitos anos. Ela manda-me uma rapariga, percebe?
Tive pena do coitado, tinha um fraco por mulheres que percebiam o fenómeno do futebol. Deduzi que não seria caso único.
-Ela ameaçou contar à minha mulher!
-Quem?
-A Dona Paula. Puseram o quarto da pensão sobre escuta. Têm gravações em que discuto as opções do seleccionador nacional, a capacidade financeira do Benfica e disserto sobre o tom de voz do Ricardo. Ou pago dez mil euros ou falam com a minha mulher. A minha mulher morria se soubesse que discuto futebol com outras.
O velho negócio das raparigas de programa. Já tinha ouvido falar de um grupo de mulheres que percebiam de futebol, mas ficou tudo em águas de bacalhau - a investigação não avançou.
-Ligue aí à Dona Paula.
-O quê?
-Vou aceitar o caso, Tó. Mas ganho três garrafas de Cacique e dez pacotes de amendoins por dia.
-Não me vai custar dez mil euros, de certeza - disse ele. Num sorriso, sacou do telemóvel e marcou um número. Saquei-lho e pisquei o olho. Começava a simpatizar com o Tó-Mané.
continua...
4 comments:
Há muito que não vinha ver o que vocês andavam a escrever...a vida tem estado complicada!!!
Mas já deu para matar saudades...agora vê lá se te despachas com "A Puta do Futebol II" que eu estou em pulgas para saber o desfecho...
Beijocas,
Cat
Depois de tanta pressão, está terminado o conto. Por singular que pareça, são duas moças a ansiar pelo final de um conto cujo tema aborda o futebol. Será que existe paciência para ler tudo até ao fim? Espero que sim.
É obrigatória a leitura do original, ok? Se calhar já estou a pedir demais, não? Ai estou, estou...
Bolas, dou comigo aos pontapés à gramática... como é que se escreve "fantástico"?
Post do dia? Regras? Mas o fascismo está de volta? Mas que regras são essas?
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